inspiração: Ana Thomaz

Decidi parar de trabalhar por uns tempos para conseguir me ouvir novamente. Quando escolhemos trabalhar em casa, a fazer o que mais gostamos e para estar mais próximo dos filhos não imaginamos que podemos repetir os mesmos passos que nos fizeram sofrer ao trabalhar fora de casa. Eu cheguei a um ponto em que trabalhar em casa era não ter tempo para mim, nem para a casa nem, mais importante ainda, para os filhos. Quase todos os dias me apanhava a dizer “agora não posso, tenho trabalho à espera”. Mas desta vez, ao contrário daquele tempo em que tinha um salário que me reconfortava a vida ao fim do mês, nem era o dinheiro que ditava porque esse, sejamos honestos, é muito pouco para quem trabalha com as mãos. Era o meu senso de dever, de responsabilidade que me chamava e me dizia que aquilo era mais urgente que as necessidades dos meus filhos. 
A vida não estava a correr bem e eu sabia-o. Eu já não me sentia no caminho certo e estava consciente disso. Por isso decidi tirar um tempo, talvez um ano, para me reencontrar. A falta de paciência, o corpo sem energia, as horas a correr mais que eu – esses eram sinais suficientes de que eu tinha entrado num atalho errado e como mãe, chefe de família (a maioria das mães é chefe de família) estava a levar todos comigo para o mesmo lugar.
Custou-me admitir que se calhar era melhor parar. Como não podia parar de ser mãe, decidi parar a outra parte. Viver em frustração constante e ver os filhos a copiar hábitos de que não me orgulho nada não pode ser opção de vida – e responsabilizar a vida pelos meus dias também não.
Parei. E agora? Tinha parado mas não sabia por onde começar, a que me agarrar. Sabia que haviam respostas à minha espera, sabia que muitas pessoas poderiam me ajudar porque também elas tinham passado pelo mesmo mas não sabia como chegar a tudo. Estava em crise. Não conseguia dormir, sabendo que o caminho estava ali à minha frente e eu não o via, tudo ali tão perto e eu cega. Os dias foram passando. O meu ritmo foi acalmando. Consegui voltar a me ouvir melhor.
No outro dia, na cama, deitando-me tardíssimo quando toda a casa já ia no segundo sono e os primeiros pássaros começavam a cantar (e que lindo soa) agarrei no meu desespero e pedi que alguém me ajudasse, que me enviassem um sinal, que me enviassem alguém, que eu estava desesperada e não sabia o que mudar, como mudar, por onde começar, como começar. Adormeci. Das poucas vezes na vida que fiz isto, algo aconteceu, algo veio até mim, e eu tive a sorte de estar preparada para o receber. 
Hoje, passados poucos dias, já não me sinto desesperada. Sinto-me calma, confiante. Sei que tenho muito trabalho pessoal pela frente, sei que vou falhar todos os dias mas que todos os dias vou também conquistar mais um passo, mas o que mais me motiva é este sentimento de estar em crise comigo mesma ter passado. Percebi que somos dotados de um mapa interior que aprendemos a ignorar desde cedo e que se não ouvirmos os seus alertas a bem vamos ter que os ouvir a mal. A nossa intuição, tão desprezada e pouco aproveitada, vai se cansar de nos falar e vai passar a gritar. Ela vai ralhar. Ela vai nos sacudir se for preciso e é capaz que doa. Tudo seria mais fácil com menos ruído de fundo, a ela bastava-lhe sussurrar e nós estaríamos sempre bem acompanhados. Mas infelizmente vivemos rodeados de barulho e são poucos os que se conseguem ouvir. 
Conheci a Ana Thomaz através da Graça Paz e sinto que, mais uma vez as minhas toscas preces foram ouvidas. Não me alongo mais, apenas peço que vejam o vídeo (este e os outros que encontram no youtube) se vos interessar. A mensagem só terá o efeito que teve em mim se estiverem no lugar em que eu me encontro mas ainda assim, acho que é uma mulher digna de se conhecer e a sua experiência pode ajudar a de muitos de nós. Eu estou-lhe eternamente grata por me ter devolvido aquilo que julgava estar a perder. 
Afinal, a crise era apenas o sinal de eu estar a me distanciar demais de mim, nada mais que isso. A crise que sentia estar a viver era o viver dividida. E que alegria saber isso e poder voltar a caminhar, com mais optimismo, mais segurança, mais certeza, mais esperança.

17 comentários em “inspiração: Ana Thomaz”

  1. Depois diz-me o que achaste. Eu falo destas coisas abertamente talvez porque não as considere minhas, são de todos nós. Um abraço para ti*

  2. Já ouvi e vou tentar que algumas pessoas que me são importantes ouçam também. Neste momento da minha vida sei valorizar e talvez mais do que nunca reconhecer a verdade destas palavras, que não são só palavras…
    Olha, obrigada pela partilha! : )

  3. Virgínia, primeiro pensei que este post podia ser um sinal de um caminho que procuro. Depois vi o vídeo e fiquei presa desde o principio. Tudo me interessa, a maneira como ela ( a Ana Thomaz ) fala é envolvente, o processo faz sentido, é longo, é um processo prático. Mas quando começa a falar nas filhas pequenas, nos desafios, nas frustrações e sobre como o poder nos leva à impotência, isso interessou-me mesmo muito, porque é uma coisa que já sei mas, à qual não sei responder, não sei reagir.
    Gostei mesmo muito e sinto que posso aprender imenso a partir daqui. Deu-me uma visão nova de como encarar a minha vida.

  4. Gostei imenso deste artigo e partilho algumas das preocupações da Virgínia. Já estive a ver um pouco do video e achei muito interessante. Vou pesquisar mais! Obrigada pela partilha tão aberta e bonita.

  5. Considera este comentario como um abraço sentido. Estou na altura certa para ler este post e ver este filme, que vem fundamentar (ainda mais) decisões que ando a tomar na minha vida. E é tão, tão, dificil fazer diferente dos outros, remar contra a maré que quando se encontra ecos deste género, sentimo-nos chegadas a um porto. Seguro, ou pelo menos mais seguro.

  6. Gostei da indicação do vídeo, pretendo arranjar um tempo para assisti-lo.
    Estou começando agora em um projeto caseiro, embora continue – e pretenda continuar – trabalhando fora, e tenho pensado bastante nisso, no limite que me devo dar para que aquilo que seria um prazer – trabalhar com o que gosto, em casa – não se torne um fardo.
    Tenho certeza que está no caminho e tens razão sobre a intuição – sempre acerta e tão mais fácil seria se há ouvíssemos nos primeiros sussurros, não?
    Um abraço, sucesso, tenho certeza que o caminho à sua frente será suave.

  7. Espero que tudo se encaixe. A vida é mesmo feita de progressos e retrocessos. Obrigada pela Partilha fiquei fã. Já ando a pesquisar vais vídeos da Ana Tomaz.Beijinho e força.

  8. Grata pela partilha fantástica!
    Tudo isto me faz pensar e repensar a minha posição neste mundo, as minhas acções no dia a dia. E gostava imenso de mudar…

    Para o teu próprio caminho, desejo-te força e felicidade!

  9. Virgínia , obrigada por compartilhar este vídeo, assisti e já coloquei em prática com meu filho de 15 anos.E já percebo bons resultados.Nesta semana que você postou este vídeo eu também estava pedindo, através das minhas preces , uma ajuda ,um caminho a seguir…Está sendo muito interessante conhecer a ti , Ana Thomas e teu Blog.Abracos
    Annelice Siebler

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