Febre II

Não fui à biblioteca como tinha combinado, não fiz as malas e não fui para Tomar… o M. tem febre outra vez. Cada vez mais sinto que temos que ser nós a procurar informarmo-nos ao máximo e usar sempre do bom senso porque infelizmente o que a maioria dos médicos faz é receitar, receitar, receitar. Se calhar convenceram-se que essa é a sua tarefa. E muitos de nós esquecemo-nos da nossa.
Parece-me que sou a única mãe que acha estranho certas ideias e atitudes correntes e tento nem sempre intervir e deixar acontecer, porque se calhar estou a exagerar ou a querer proteger demais o meu filho. A última notícia da escola que recebi com grandes entusiasmos por parte da escola e de outras mães é que os meninos vão à Marinha Grande na semana que vem, devendo no dia apresentar-se às 7:00 na escola, não sendo esperada a sua chegada antes das 19:00. A minha primeira reação é o silêncio. É o que me acontece quando me sinto chocada. À Marinha Grande? Porquê? Às 7:00 da manhã na escola? Um autocarro cheio de crianças de 5 anos, para lá e para cá… PORQUÊ? Mas não disse nada. Mas como se conseguisse ler os meus pensamentos, a directora da escola, de quem até gosto, apressou-se: “Vai ser giro! Eles adoram!” Pois, mas eu não tenho o costume de colocar o meu filho no mesmo saco dos “eles”. O meu sei que não adora. Porque é muito consciente de tudo o que se passa à sua volta e sabe perfeitamente que não é por os outros dizerem que é giro que ele vai achar giro! Mas não disse nada, nem ao M., e na minha maior hipocrisia fiz-lhe um grande sorriso e fingi-me entusiasmada com a visita (de estudo??) para ver qual era realmente a sua opinião. E ele, educado como sempre, continuou o entusiasmo que tinha visto na escola, mas eu senti que não era dele. No dia seguinte, no meio de nada agarrou-se a mim a choramingar: ” Eu não quero ir à fábrica! Não gosto de fábricas! Fazem muito barulho!”… De onde é que ele sabe que as fábricas fazem muito barulho não sei mas senti um alívio por ele chegar lá, por ter conseguido limpar tudo o que lhe tentaram fazer acreditar e ter conseguido ouvir-se a si próprio. Aí eu pude dizer para ele não se preocupar que nem a mãe nem o pai o iam obrigar a dar um passeio que ele não queria dar. Mesmo assim, eu, mãe que adora o seu filho mais que tudo, ainda tentei fazer-lhe ver as coisas positivas do tal passeio, mesmo não acreditando em nada do que dizia…. Será a sociabilização mais importante que sermos fieis a nós próprios? Terei eu que ajudar o meu filho a ser fiel a si próprio ou a ser uma pessoa que tem que pertencer a um grupo para não ser marginalizado? É que mesmo na pré-escola existe marginalização, mais grave ainda, são sempre os adultos que ensinam a marginalizar.
Tinha que desabafar.

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