pinhões

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pinhões no prato da bisavó

Parece-me cada vez mais difícil encontrar pinhões.
Quando era criança, o meu bisavô levava-me a mim e a todas as crianças da praceta à caça de pinhões. Éramos um bom grupo. E caminhávamos bem. Naquele tempo, os prédios eram raros, haviam tanques de pedra enormes no meio do campo cheios de água límpida onde as pessoas se iam abastecer, como ainda fazem em Sintra, logo ali ao lado.
A rua era vivida como uma segunda casa. Levávamos brinquedos, colchões, comida – só voltávamos a casa quando as mães (e avós) apareciam à janela a chamar para o jantar.
Por ali haviam também casas senhoriais abandonadas que visitávamos regularmente. Em grupo, sempre em grupo. Era o verdadeiro sentido de aventura e mistério, que o meu bisavô sabia conduzir como ninguém. Tenho a certeza que se divertia tanto quanto nós. As casas eram enormes, com jardins lindíssimos, pomares e hortas, lagos e fontes – tudo ao abandono, de porta aberta, salas e quartos e cozinhas a adivinhar. Parecia-me sempre que alguém ainda por lá vivia, que saía pela porta não tardava nada. Mas eu estava com o meu avô, estava segura.
Era lá o nosso sítio preferido para apanhar pinhões. Eram tantos, espalhados pelo chão de mármore. Era um encher de sacos, entre um e outro susto ora pregado pela própria casa, ora por um de nós. Eram o medo e o perigo que nos faziam sair dali de barriga cheia, cheia de aventura e de risco, coisa que não sei se as crianças de hoje sabem o que é.
Voltávamos também de sacos cheios de pinhões, que depois do almoço nos entretínhamos a descascar à pedrada ou à martelada, na rua ou em casa.
pinhões

pinhões

Já que o preço do pinhão está exorbitante e o seu sabor deixa muito a desejar, temos andado à caça dele por perto de casa. O calor vai abrindo as pinhas e nós agradecemos. E embora não se consigam encher sacos, vamos entrando pinhais de coqueluche adentro, procurando por entre a caruma, e mais tarde em casa pegamos numa pedra e descobrimos o homem-das-cavernas em nós adormecido e damos à mãe para provar. E a mãe gosta muito.

9 comentários em “pinhões”

  1. Olá Virgínia

    Visito o teu blog há pouco tempo, mas tem sido uma delícia. Sou de Tomar, cidade de mil encantos, que sei que conheces. Não tanto por cá, mas por outras paragens, lembro-me perfeitamente de apanhar pinhões vindos de pinheiros sob os quais se comia uma bela sardinhada. E também de viver essas aventuras excitantes de invadir casas abandonadas. Sempre acompanhada, para partilhar o riso, mas essencialmente, o frio na barriga. Parece que foi numa outra dimensão, mas tento reviver tudo isso com o meu filho, porque quero que ele cresça com a alma enriquecida com o sabor da vida vivida intensamente. Quanto aos pinhões é que realmente eles vão sendo cada vez mais difíceis de encontrar. Parabéns pelo blog e pelas mãos de fada com que foste abençoada.
    Beijos e risos.

  2. as memorias que tenho das minhas ferias no algarve, de onde os meus avos sao, eram as idas para a praia de manha, a assardinhada debaixo dos pinheiros ao almoco, dormir a sesta de rede e voltar a paraia novamente la pela tardinha. tambem apanhavamos pinhas e abria os pinhoes com uma pedra… aqui na holanda o meu filho faz o mesmo, mas a falta de pinhoes, com nozes e avelas… mas nada como pinhoes directos da pinha… ah o cheiro… tenho que lhes mostrar da proxima que formos a portugal!
    kus. sonia

  3. Pinhões há muitos no baixo Alentejo. Pinhões há muitos perto de casa e isso já sabes é só quando quiseres:)

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