A caminho de Monsaraz IV

Segundo a Dª Ema, fiel depositária da chave da Igreja, quando esta se encontrava quase sempre fechada e os turistas eram raros ” por baixo da Igreja há uma lagoa. No Inverno as pedras do chão cobrem-se de água e as pinturas das paredes são destruídas por causa da humidade. Além disso, há uns anos, esteve aqui um daqueles homens que adivinham onde há água e confirmou que existe um lago debaixo da Igreja.”
Há muitos anos atrás participei na bienal Monsaraz Museu Aberto. Acompanhava a minha mãe, que muito sucesso teve com as suas peças de cerâmica minuciosamente pintadas, levando comigo algumas das minhas obras em barro, que tanto prazer me deram fazer. Os dias que lá passámos foram mágicos. Conheci artesãos talentosos, apaixonados pelas suas terras e heranças, gentes da terra cheios de cultura daquela que não se aprende em livros e única fonte de sabedoria real que poderá levar alguém um dia a tornar-se gente grande. Foram dias longe do mundo, embora o mundo viesse ter connosco, curiosos viajantes que de longe chegavam para visitar aquele belo evento. O então Presidente da República Jorge Sampaio veio ver-nos, apertou-me a mão demoradamente e mostrou-se interessado pelo meu trabalho, ficando por ali a olhar, fazendo perguntas e desejando-me sucesso. Gostei daquele homem, sensível e humilde. Assisti a um espectáculo de música celta no Castelo, debaixo de uma enorme lua cheia, tão grande como nunca voltei a ver. Foram dias importantes na minha descoberta de identidade. Talvez por isso Monsaraz seja tão importante para mim.
E agora, no cimo daquelas muralhas, a olhar o lago do Alqueva estendido até o horizonte, tudo o que sai da minha boca diz: que maravilha, que maravilha…! Foi o meu mantra por uns momentos.
Tentem guardar uns segundos para o silêncio. É lá que todos nós estamos. Encontrem-se. Eu vou tentar fazer o mesmo.

Bom fim-de-semana!

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